Vidyadhara Chögyam Trungpa Rinpoche

Chögyam Trungpa RinpocheChögyam Trungpa Rinpoche foi um dos mestres budistas mais dinâmicos e controversos do século XX. Foi um dos pioneiros em trazer os ensinamentos budistas do Tibete para o Ocidente, e a ele se deve a introdução de muitos conceitos budistas na língua inglesa e no psiquismo, de uma maneira nova e única. Ao definir o verbete ego, por exemplo, o dicionário inglês da Universidade de Oxford passou a consignar também a acepção utilizada por Chögyam Trungpa Rinpoche. Fundou a Universidade Naropa, primeira instituição de ensino superior de inspiração budista das Américas, assim como uma rede de mais de uma centena de centros de meditação pelo mundo todo. Escreveu muitos livros sobre meditação, budismo, poesia, arte e sobre o caminho Shambhala da condição guerreira. Numerosos grandes mestres detentores de linhagens tibetanas foram por ele trazidos, pela primeira vez, para ensinar nos Estados Unidos e no Canadá. Os milhares de estudantes por ele atraídos continuam a propagar seus ensinamentos e seu legado neste novo milênio.

Biografia

Chögyam Trungpa RinpocheO Vidyadhara Chögyam Trungpa Rinpoche (1939-1987) foi o 11.º descendente na linhagem dos tülkus Trungpa, mestres importantes da linhagem Kagyü, uma das quatro escolas principais do budismo tibetano e conhecida por sua forte ênfase na prática da meditação. Além de ser um professor-chave dentro da linhagem Kagyü, Chögyam Trungpa foi também treinado na tradição Nyingma, a mais antiga das quatro escolas, e aderiu ao movimento ecumênico ri-me (“não sectário”) dentro do budismo tibetano, que tinha por aspiração coletar e tornar disponíveis os valiosos ensinamentos de diferentes escolas, sem que houvesse rivalidade sectária. Ao longo de sua vida, procurou levar à maior audiência possível os ensinamentos que tinha recebido.

Chögyam Trungpa Rinpoche quando jovem

Chögyam Trungpa Rinpoche jovemApós já ter assumido a posição de superior dos monastérios Surmang no Leste do Tibete, Trungpa foi obrigado a fugir do país em 1959, com 20 anos de idade. Mal escapando dos invasores chineses, ele e uma pequena comitiva de monges fizeram uma perigosa viagem a cavalo e a pé pelos Himalaias, para alcançar a Índia. De 1959 a 1963, por indicação de Sua Santidade, o Dalai Lama, Chögyam Trungpa serviu como conselheiro espiritual para o Lar Escola para Jovens Lamas, em Dalhousie, na Índia.

Chögyam Trungpa RinpocheEm 1963, Chögyam Trungpa mudou-se para a Inglaterra para estudar religiões comparadas, filosofia e belas-artes na Universidade de Oxford, como bolsista Spaulding. Nesse período, também estudou ikebana, a arte japonesa do arranjo de flores, e recebeu um diploma de instrutor da escola Sogetsu. Em 1967, mudou-se para a Escócia, onde fundou o Centro de Meditação Samye Ling, o primeiro dos seus centros de prática no Ocidente. Logo depois, diversas experiências — inclusive um acidente de automóvel que o deixou com o lado esquerdo paralisado — levaram Chögyam Trungpa à decisão de abandonar seus votos monásticos e trabalhar como um professor leigo. Em 1969, publicou “Meditation in action” (Meditação na ação), a primeira das 14 obras sobre o caminho espiritual que publicou em vida. O ano seguinte foi ainda marcado por outro ponto de inflexão na vida de Trungpa: seu casamento com Diana Pybus e sua mudança para os Estados Unidos. Lá ele fundou seu primeiro centro de meditação na América, Tail of the Tiger (A Cauda do Tigre, conhecido agora como Karmê-Chöling), em Barnet, no estado de Vermont.

Chögyam Trungpa RinpocheNos Estados Unidos dos anos 70, os antigos ensinamentos e as instruções práticas que Chögyam Trungpa trouxe consigo encontraram uma audiência ávida. Durante essa década ele viajou constantemente através da América do Norte, publicou 6 livros, fundou 3 centros de meditação e uma universidade contemplativa (Universidade Naropa). Tornou-se conhecido pela sua habilidade única para apresentar a essência dos mais elevados ensinamentos budistas de uma forma facilmente compreensível para os estudantes ocidentais.

Durante esse período, Chögyam Trungpa dirigiu 6 Seminários Vajradhatu, programas residenciais de 3 meses nos quais ele apresentava o vasto corpo de ensinamentos budistas em uma atmosfera de intensa prática de meditação. Os seminários auxiliavam na importante tarefa de treinar seus estudantes para que também se tornassem professores. Chögyam Trungpa também convidou outros mestres, inclusive Sua Santidade, o Gyalwang Karmapa — chefe da linhagem Kagyü —, para que viessem ao Ocidente e oferecessem seus ensinamentos (foto à esquerda, com Trungpa).

Chögyam Trungpa Rinpoche e o 16o Karmapa

Chögyam Trungpa Rinpoche e o 16o Karmapa

Foi também nessa época que Chögyam Trungpa fundou o Vajradhatu (com sede em Boulder, no Colorado), organização central colocada acima dos muitos centros que surgiam por todo o mundo, sob sua direção. Em 1976, designou Thomas Rich para ser seu Regente Vajra, uma tradicional posição que se confere a alguém com a responsabilidade de dar prosseguimento à transmissão do legado de ensinamentos deixado por um mestre. O Regente Vajra Ösel Tendzin foi o primeiro ocidental a ser reconhecido como detentor da linhagem, dentro da tradição Kagyü (na foto acima ele está atrás do Karmapa, à esquerda).

Além do Budismo

No fim da década de 70, Chögyam Trungpa realizou um desejo havia muito acalentado, de apresentar a prática contemplativa aos que não estivessem necessariamente interessados em estudar o budismo. Ele desenvolveu um programa chamado de Aprendizado Shambhala, inspirado no legendário reino iluminado de mesmo nome.

Chögyam Trungpa Rinpoche fazendo uma ikebana

Trungpa Rinpoche fazendo uma ikebana

Durante os anos 80, enquanto continuava suas viagens para ensinar, ministrava os seminários Vajradhatu e publicava livros — e fundava um mosteiro budista no cabo Breton, na Nova Escócia, no Canadá —, Trungpa cada vez mais voltava sua atenção para a propagação de ensinamentos que se estendiam além dos cânones budistas. Essas atividades incluíam não apenas o Aprendizado Shambhala, que vinha atraindo milhares de estudantes, mas também a arte japonesa do arco-e-flecha, caligrafia, arranjo de flores, cerimônia do chá, dança, teatro e psicoterapia, entre outras. Ao plantar as sementes dessas muitas atividades, Chögyam Trungpa, em suas próprias palavras, buscou trazer “a arte para a vida diária”. Criou em 1974 a Fundação Nalanda, para abrigar essas atividades.

A essência das organizações que Chögyam Trungpa tinha fundado era oferecer instrução de meditação e programas de ensino em mais de 100 centros urbanos (Dharmadhatus) espalhados por todo o mundo e em diversos centros contemplativos rurais onde eram ministrados programas intensivos de meditação e estudos. Nesses vários centros, que formavam uma grande rede informal, apresentava-se aos estudantes a possibilidade de integrar os estudos e a prática da meditação à vida diária. Dependendo de seu interesse e inclinação, esses estudantes se dedicavam a quaisquer das muitas atividades contemplativas que hoje são parte da organização de Shambhala — da prática tradicional de meditação ao arranjo de flores e à dança.

Uma nova era

Em 1986, com base em seu desejo de instalar a sede de sua organização em uma atmosfera menos agressiva e materialista, Chögyam Trungpa mudou-se para a Nova Escócia, onde já se haviam estabelecido centenas de seus estudantes.

Esta seria sua última mudança. Pouco depois, em abril de 1987, Chögyam Trungpa viria a falecer.

Chögyam Trungpa Rinpoche e Dilgo Rinpoche

Chögyam Trungpa Rinpoche  e Dilgo Khyentse Rinpoche

Seu passamento foi marcado por uma elaborada cerimônia realizada na propriedade de Vermont, onde ele havia estabelecido sua primeira base na América. O funeral estendeu-se por todo um dia e atraiu mais de 3 mil pessoas. Muitos anos depois, o Regente Vajra também veio a falecer. Durante o período que seguiu essas mortes, a comunidade e suas lideranças voltaram-se para um dos mais reverenciados mestres de Chögyam Trungpa, e o único que lhe havia sobrevivido: Dilgo Khyentse Rinpoche, o então chefe supremo da linhagem Nyingma.

Tributo a Chögyam Trungpa celebrando seu 24o. Parinirvana, feito por um de seus filhos, o cineasta Gesar Mukpo: